Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Um momento em Buenos Aires

Eu já havia tido a oportunidade de conhecer Buenos Aires, a capital argentina. Esse final de semana fui lá outra vez. A cidade é belíssima, um clima completamente diferente do Brasil, de Porto Alegre e ainda assim tão perto. Alguns dizem que é o clima europeu, outros falam dos "ayres porteños", há quem diga que são as pessoas e outros, a cidade em si. Para mim é a combinação de tudo isso e mais um pouco. Da Boca a Palermo, os bairros e as ruas possuem uma identidade pessoal, com uma arquitetura de encher os olhos em meio à prédios, parques e monumentos. As opções gastronômicas, minhas favoritas, são infinitas e deliciosas. Do barato ao mais sofisticado, Buenos Aires é um prato cheio para aproveitar em grupo, sozinho ou, para a minha sorte, a dois.
Porém, o que vim compartilhar hoje aqui não é sobre a cidade vista, não é sobre o que os meus olhos de viajante/turista encontram em qualquer esquina. Hoje eu voltei de Buenos Aires querendo escrever sobre um pequeno momento da minha viagem linda - pois a vida é feita desses pequenos momentos - a noite de domingo em San Telmo.
O bairro da boemia porteña é destino fiel dos turistas aos domingos, afinal de contas passear pela Feira de San Telmo é um "must", como diria minha mãe. Mas durante a noite normalmente o pessoal vai para o Puerto Madero ou tomam um rumo diferente

Domingo à noite saímos, eu e o meu amor, a caminhar por San Telmo em busca de um lugar aconchegante para jantar e evitar o vento lá fora. Resolvemos dar uma olhada ao redor da Plaza Dorrego onde inicia a Feira durante o dia. Ao chegar lá me deparei com uma cena surpreendente. Cultura - no melhor dos sentidos. Fiquei sem ar, sem chão.
Uma fileira de luzinhas coloridas iluminavam um canto da praça. Um aparelho de som a todo volume. Algumas mesas com pessoas tomando vinho ou Quilmes e um vento gelado em pleno início de outubro. Quando estávamos chegando a música era algo tipo cúmbia, e quando chegamos naquele lugar, antro de cultura, o que tocava era tango.
E foi assim, ao som de tango numa noite de domingo em San Telmo que argentinos de todas as idades e classes: hippies, hipsters, velhotes, dondocas e gente sem rótulo me mostraram os verdadeiros buenos aires. Uma parte da verdadeira Buenos Aires. Sem ganhar nada dos turistas, sem fazer por necessidade, sem motivo algum aparente. Apenas por serem argentinos, por serem porteños, estavam lá dançando tango. Ora, o que se faz num domingo a noite na Argentina? Até ontem "dançar tango" me pareceria uma resposta saída de um livro de folclore. Mas, hoje, dançar tango possui um significado totalmente diferente pra mim. A dança nasceu na Boca, perto do Puerto Viejo, e é uma mistura de sons e passos de diferentes culturas, trazidos pelos imigrantes. Antigamente se dançava homem com homem, afinal nos portos existiam mais homens que mulheres. Era uma dança do povo. Os ricos ignoraram o ritmo até ele ser aceito na Europa. Só então, o tango passou a ser parte da identidade dos bairros mais abastados de Buenos Aires.

Em San Telmo se dança tango. É o povo argentino, como antigamente, dançando, vivendo a cultura, assim da forma mais pura e simples que se pode existir.